Entrevista com Nicola Grossi, autora de A Toca do Urso!

O Blog da Carochinha bateu um papo com Nicola Grossi, autora de A Toca do Urso! e descobriu um montão de curiosidades que compartilhamos com vocês leitores. Confira!
Por Marcelo Jucá
Temos muito sobre o que conversar a respeito do livro. Mas vou começar com uma revelação. Por conta dele, agora eu sei desenhar um urso! E também raposas, sapos, formigas e até elefantes!
Vamos às perguntas: como surgiu a ideia das ilustrações? Da escolha de não dar a forma “original” aos animais.
No período em que idealizei o livro, fazia parte de uma associação cujo objetivo era aproximar as crianças em idade pré-escolar da leitura: eu lia muitos álbuns ilustrados, realmente muitos!
Comecei então a pensar que o personagem ou os personagens definidos pelas ilustrações, por mais belas que fossem, limitavam a imaginação dos pequenos ouvintes.
Uma diferença marcante entre o cinema e a literatura está justamente na liberdade da mente para representar pessoas, objetos e paisagens como quiser.
Ficava cada dia mais evidente para mim que todas as crianças sentadas à minha frente, ouvindo a história, seriam “forçadas” pela ilustração a visualizar o terrível ogro da narrativa ou a princesa impertinente da mesma maneira.
Assim surgiu a ideia: o texto para nomear e o círculo como forma livre para representar, mas, sobretudo, para imaginar. A realização propriamente dita das imagens, concebidas como ilustrações, é mérito da editora.
Como isso estimula a imaginação dos pequenos leitores?
As palavras, as linhas horizontais contínuas ou interrompidas e o círculo – forma livre que sempre retorna, que não começa nem termina – servem como estímulo para a imaginação. A forma completa será obra da criança e acontecerá por meio de um processo autônomo, pessoal e não condicionado.
As ilustrações foram pintadas com que material?
A primeira versão do álbum que apresentei estava no formato de folhas encadernadas em papel A4, com páginas realmente perfuradas na correspondência das tocas.
Os círculos eram recortados e colados na página, assim como as linhas horizontais que simbolizavam os diferentes caminhos e trajetos. O encontro com a editora foi determinante para a concepção gráfica do projeto, que posteriormente foi realizado utilizando lápis de cor.
Para os educadores que acompanham o Blog, que tipo de atividades relacionadas ao livro sugerem? Dá para recriar, continuar a história? Testar outros materiais? Colocar novos animais? Compartilhe com eles...
O que experimentei foi o prazer de uma narrativa capaz de envolver fisicamente o pequeno público.
A história de A Toca do Urso! pode ser dramatizada, pedindo às crianças que encenem os animais, as ações que eles realizam ou os sons que produzem. É possível brincar de imaginar junto com elas para onde o Urso estava indo antes de se perder ou o que o Elefante poderá inventar para se enfiar no buraco… Descobrir de onde vêm ou para onde vão as histórias é o belo mistério de toda a literatura!
Vemos também as diferentes ambientações de florestas, rios e desertos. Contudo, aparentemente as crianças de muitos países estão cada vez mais afastadas desses cenários. Como os livros podem ajudar nessa reconexão?
Certamente, nomear os espaços abertos nos livros é um pequeno começo, porque, se é verdade que as crianças passam cada vez mais tempo dentro de casa, nosso vínculo com a natureza continua sendo muito poderoso.
Às vezes, pensei que a situação fosse tão dramática a ponto de tornar necessária a publicação de álbuns ilustrados no formato de manuais com títulos como Manual para subir em árvores.
Mas então me deparei com esta frase: […] mas um bom livro não é, talvez, como aquela criança? Ele fica ali, apoiado tranquilamente em nossas estantes, em nossas mesas de cabeceira, dentro de casa, mas não é doméstico, não é domesticado. Enquanto você lê, percebe que ele voltou de algum lugar selvagem. Dentro dele, há um eco de selvageria […]
A única coisa a fazer, então, é continuar escrevendo bons livros!
Os personagens da obra estão diretamente ligados às cores. Alguns outros animais quase participaram da história? Como foi feita a escolha? Foi afetiva de alguma forma? Eu adoro girafas. Só estou em dúvida como fazer uma.
A ordem de grandeza dos animais foi um critério na escolha deles: do maior ao menor, e no final, o elefante – o grandíssimo, maior que o urso inicial. Para mim, o urso foi uma homenagem a um dos meus livros favoritos, A Caça ao Urso, de Michael Rosen e Helen Oxenbury.
A Toca do Urso aborda de um jeito adorável questões como solidariedade e empatia. Por que destacar essas emoções?
Porque são estados de espírito que as crianças ainda reconhecem e respeitam.
O livro, em sua inteligente simplicidade, revela-se como uma potente inspiração para os outros. Afinal, o que pode um livro?
Os livros emocionam, curam, fecham as portas quando há muito vento em casa, mantêm-nos acordados à noite ou fazem-nos perder o equilíbrio na bicicleta se forem muito envolventes, são fáceis de embrulhar, assustam os poderosos, lembram as coisas e inventam mundos só para você. Eu diria, enfim, que eles realmente fazem um grande esforço!
Por fim, ajudar o que fazer quando quer ajudar o outro, mas não sabe como?
… Para mim, damos-lhes um bom livro!
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A toca do urso
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